Menu
Sábado, 20 de abril de 2024

Estigma da AIDS ainda é forte e prejudica diagnóstico e tratamento, diz infectologista

Quase 40 anos depois da identificação da doença, preconceito persiste

01 de Dez 2020 - 07h:16 Créditos: Assessoria, GSF
Crédito: Dr. Poli

Quase 40 anos após ter sido identificada, a AIDS segue como epidemia apesar do ritmo de contágio ter desacelerado. O HIV é o vírus que causa a AIDS. É uma infecção sexualmente transmissível que não tem cura, mas tem controle. A estimativa é que no mundo entre 38 e 40 milhões de pessoas vivam com HIV. No Brasil, os cálculos são de 900 mil infectados, sendo que 150 mil não sabem que contraíram o HIV porque não fizeram teste específico para descobrir o vírus no sangue. E essa realidade, em muito, se deve ao preconceito das pessoas quanto à AIDS, afirma o infectologista João Paulo Poli, do Grupo São Francisco, neste 1 de Dezembro, Dia Mundial de Luta Contra a Aids. 

“As pessoas têm preconceito, receio, estigma, ideias pré-concebidas que só prejudicam. Inclusive, muitas têm receio de fazer o teste para saber se têm ou não HIV. Elas têm medo de serem estigmatizadas, de serem apontadas na rua se tiverem com a doença ou mesmo pelo fato de fazer o teste. E isso só atrasa o diagnóstico, o acesso ao serviço de saúde e o tratamento. Infelizmente, quem vive com HIV e AIDS ainda sofre descriminação na sociedade, no trabalho, na família”, afirma Poli.

A afirmativa do especialista é comprovada pelo Índice de Estigma, uma pesquisa realizada na cidade de São Paulo pelo Programa das Nações Unidas para o HIV e a Aids (Unaids) e pela PUC do Rio Grande do Sul (PUC-RS), com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O estudo apontou que 80,7% dos entrevistados que vivem com HIV têm dificuldade de contar às pessoas sobre as condições e 58,4% relataram ter recebido diagnóstico de problemas de saúde mental. A forma de discriminação mais experienciada pelos participantes da pesquisa em São Paulo foi saber que outras pessoas, que não são membros da família, fazem comentários discriminatórios porque se é soropositiva para o HIV. Mesmo entre membros da família, essa forma de discriminação foi bastante relatada, não ficando restrita a fofocas ou comentários discriminatórios, pois também foram informados assédios verbais, agressões físicas e até mesmo perda de fonte de renda ou emprego por ser soropositivo para o HIV.

PRECONCEITO E CONTÁGIO

João Paulo Poli apela para a necessidade de combater o preconceito com a AIDS. “Temos é de prevenir o contágio pelo HIV usando preservativo em todas as relações sexuais, mas não estigmatizar a doença e quem é soropositivo”, frisa. O infectologista lembra que, neste ano de pandemia, quem vive com HIV sofre ainda mais por conta da suspensão ou adiamento de consultas, exames e restrição de acesso aos centros especializados. “A pessoa com o vírus HIV não tem risco maior de adquirir o vírus Sars-CoV-2 ou ter complicações decorrentes da Covid, até porque faltam pesquisas. Mas quem tem imunidade mais baixa, que é o caso de quem desenvolveu a AIDS, têm risco maior de complicações se adquirirem Covid”, frisa. 

João Paulo Poli finaliza com uma mensagem: “A AIDS é uma doença prevenível com o uso de preservativo. Os jovens entre 20 e 35 anos são os que mais estão se infectando, principalmente por não usarem preservativo. E essas novas infecções não são mais aceitáveis em pleno século 21. Mas quem se infecta, felizmente, tem tratamento eficaz. Use o preservativo e faça o teste para HIV, principalmente a cada novo parceiro”, finaliza. 

Deixe um comentário


Leia Também

Veja mais Notícias