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Quinta, 28 de março de 2024

FINAL FELIZ, UFA!

05 de Nov 2021 - 11h:20

A crônica de hoje, infelizmente, não é minha. Ela chegou através de uma carta datada do último dia 24 de setembro, escrita pelo amigo e ex-companheiro de redação Albertino Cardoso, que foi nosso colega no início de 78, quando o Dr. José Roberto Ferraz de Camargo, hoje eminente causídico, era o nosso redator chefe. 

Em sua carta, o amigo recorda dos seus tempos de jovem e, segundo as suas próprias palavras narra: “morávamos na Fazenda Santo Antônio da Conquista. Meu mano, mais velho, já residia em São Paulo, onde era funcionário do jornal O Estado de São Paulo, na rua Major Quedinho, bem no centro, onde vislumbrava uma perspectiva de emprego, mesmo que fosse como faxineiro. Acostumado com a vida na zona rural, sonhei com a possibilidade de viver na capital, apesar de existir uma grande diferença entre ser um habitante da metrópole e “puxar um rabo seco”, nome popularmente conferido à enxada. A empolgação deu lugar à coragem para arriscar a aventura. Decisão tomada, fui em frente. Com alguns trocados, mandei fazer um terno na Alfaiataria Migliorini, no Largo de São Sebastião, e parti visando novos horizontes.”

E, de forma saudosa, como se estivesse revivendo seus dias de moço, o Cardoso continua sua bem humorada narrativa: “Viagem de trem consumada- pelo luxo das 7 da manhã- aconteceu o incrível. Eu só tinha o endereço do meu irmão, lá no jornal, mas ele morava numa pensão, na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, o que dava umas quatro quadras de distância do jornal. Só que eu não tinha o número do prédio. Assim, chegando à megalópolis, sem nunca lá haver pisado nem a passeio, a alternativa foi tomar um taxi e o motorista, certamente, percebeu a cara de caipira do passageiro porque, depois de um meses lá residindo, pude descobrir quantas voltinhas ele deu, para tirar dinheiro do matuto.

Mas, mesmo assim, cheguei ao destino. E foi aí que começou a complicação. Meu irmão trabalhava no horário noturno, a partir das duas da manhã e eu fiquei num beco sem saída. Sem conhecer o endereço completo da pensão, tive uma idéia luminosa: pernoitar no Hotel Jaraguá, no mesmo prédio do jornal.” Lendo a carta do Albertino, é fácil imaginar a sua situação quando ele vai contando que: “com aquele jeitão de caipira, apresentei-me na recepção, com uma “balise” de terceira categoria. O recepcionista contemplou-me com um ar de piedade e, educado o suficiente, explicou que o hotel era muito caro. Entendi e saí de fininho. Fiquei matutando o que fazer para matar o tempo, até a hora de encontrar o mano, lá pelas duas da matina. Bateu-me, então, uma idéia luminosa: localizar a sua pensão. 

E foi o que fiz, começando por achar a Avenida Brigadeiro. Deduzi que deveria haver uma placa indicando pensão, já que nas imediações existiam várias, todas elas com os respectivos anúncios. Mas, por coincidência, aquela em que ele morava, não tinha qualquer indicação e, assim, passei umas três vezes em frente a mesma, sem nenhuma pista, até que uma luzinha bateu lá dentro: pousar numa daquelas pensões, solicitando ao recepcionista que me acordasse de madrugada, para que pudesse encontrar com meu irmão, no jornal.”

Denotando profundas saudades daquela época, coisa que ele deixa implícito nas entrelinhas, termina o seu relato: “finalmente, tudo deu certo. A pensão em que pernoitei não tinha mais que 50 metros de distância daquela em que residia o meu irmão. Foi um “final feliz, ufa!...”

Texto publicado originalmente no Comércio do Jahu


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