Menu
Sexta, 19 de abril de 2024

AS HISTÓRIAS DOS LEITORES – 4

21 de Mai 2021 - 09h:42

As narrativas pertinentes à Rua Major Prado precisavam de uma pausam, uma vez que surgem cada vez mais detalhes interessantes, possibilitando o resgate da memória de uma época. E nem pretendemos, os leitores e eu, buscar as origens da rua desde os primórdios da cidade. Essa tarefa caberia aos historiadores. Eu diria que, ao longo de trinta e três textos, o que fizemos foi uma espécie de conversa entre amigos que tem muito que recordar. Não dizem que recordar é viver?

Outros assuntos também tem merecido a atenção dos que acompanham este espaço semanal. No início de janeiro falamos sobre a figura do delegado Emílio Mattar e sua rígida atuação. Aí surgiu a figura do Esperidião Mattar, funcionário da delegacia local que também participava dos então bem rígidos exames para os candidatos a motoristas, que eram poucos, pois ter um veículo não era para qualquer bolso como atualmente. Então foi a vez do Edison Moraes Matino contar que: “... meu exame de habilitação foi aplicado pelo Espiridião, em abril de 1964, num Ford modelo 1936, que era o melhor na frota de meu pai. Estávamos nós dois, mais o Gustinho Brovéglio e o Odilon de Oliveira. Não faltou, é claro, a clássica manobra no aclive do Jaú Progride. O Fordinho era tão ruim que, em dado momento, ao esterçar para convergir em uma esquina, a direção enroscou e só com muito esforço efetuou a manobra. Foi o suficiente para o Esperidião ordenar a volta à delegacia, situada então na Avenida Brasil, em casa alugada pelo Alexandre Mattar. Lamentavelmente, o Gustinho nem o Odilon encontram-se mais entre nós...”.

O ilustre Leonardo Washington Túmulo Sobrinho, homem influente em um grande partido político da cidade, atualmente desfrutando quase oitenta anos de experiência de vida, em sua mocidade, lá nos distantes anos cinquenta, também encarou a ilustre autoridade policial. Com certa nostalgia, conta que um sábado à noite, cidade ainda pequena, sem grandes possibilidades de diversão, vários amigos, um policial à paisana e ele, degustavam alguns goles no antigo Bar Buraco da Onça, estabelecimento simpático de apenas uma porta, até meio apertadinho, ali na Rua Visconde do Rio Branco, defronte à Igreja Presbiteriana. Evidentemente os vapores do álcool se fizeram sentir e, com alegria à flor da pele, lotaram um "pé de bode”, inclusive com alguns ocupando os estribos e saíram pelas ruas em busca de diversão. Como mencionada rua tinha dupla mão de direção, rumaram para o centro, parando na esquina da Igreja Matriz, naquele casarão bonito, de cor amarela, que ainda está lá, intacto.

Uma pequena multidão se reunia nos portões da casa. Os “meninos” acharam que ali se realizava uma festa e resolveram participar, cantando algumas canções boemias. Na metade da música ficaram sabendo que se tratava de um velório. Resultado: foram conversar com o doutor Emílio Mattar. Dá pra imaginar, não é mesmo? Ele, Tumulin, em pose inusitada, colocou as mãos nos bolsos. A bronca foi maior ainda. Garante que ninguém conseguiu abrir a boca, pois seria muito pior. Com sua memória prodigiosa, Sérgio de Souza Gomes conta que: “... doutor Emílio Mattar teve uma rápida passagem pela cidade, ao contrário de outras autoridades policiais que permaneceram vários anos à frente da então Delegacia Regional de Polícia. Tudo em razão de desavenças criadas com figuras de prestígio no cenário político local, nada satisfeitos com o rigor dedicado ao cumprimento da lei e da ordem. Para substituí-lo foi designado o doutor Arlindo de Toledo, que era primo de meu padrinho, apenas por parte de pai. Essas substituições de autoridades demonstram a representatividade jauense perante os altos escalões do governo estadual, através daqueles que exerciam cargos de chefia e militavam na Assembleia Legislativa...”.

Infelizmente, parece que nosso Jaú ficou órfão politicamente. É uma realidade, sem dúvida, tanto que estamos aí, juntando os cacos. Mas, para consolo, restam “as histórias dos leitores...”.

P. Preto é jornalista. p.preto@hotmail.com

Texto publicado originalmente no Comércio do Jahu

Deixe um comentário